O pouco caso do Governo Federal para transladar a Mato Grosso do Sul o
corpo do aluno a cabo Luís Pedro de Souza Gomes, morto no último dia 14
no distrito de Rio Pardo, em Porto Velho (RO), causa revolta. Sentimento
que aumenta de maneira significativa ao vermos, ao mesmo tempo, os
corruptos condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) onerando ainda
mais os cofres públicos ao serem levados de avião até Brasília (DF),
onde cumprirão suas penas.
O Brasil, ao que parece, simplesmente ignora os apelos das multidões
que foram às ruas, no meio deste ano, para cobrar mais saúde, justiça e,
principalmente, o fim da corrupção. Após “acordar”, o Governo Federal
fecha os olhos novamente e inflama um importante segmento de sustentação
do poder: a segurança pública, que arrisca a própria vida para proteger
a sociedade e se mostra indignada com o tratamento dispensado ao PM.
Não bastasse o luxo e tratamento cheio de dedos dado aos mensaleiros -
Marcos Valério chegou a chamar um policial federal de “incompetente”
durante sua prisão e não foi reprimido -, temos que nos deparar com uma
situação ainda mais revoltante: somente depois de três dias, familiares e
amigos do policial tombado na Amazônia puderam realizar o velório.
Enquanto os criminosos viajavam de avião e desacatavam policiais, um
herói que defendia o Brasil teve que ser transladado em um avião
emprestado pelo governo de Rondônia. Discrepância como essa, por mais
justificada que seja, soa como um tapa na cara de toda a sociedade
brasileira e perpetua o sentimento de impunidade que paira sobre o País -
afinal, somente a ponta o iceberg mensaleiro vai para trás das grades
após o julgamento.
O Governo Federal apoia e custeia movimentos sociais que pregam a
desordem no campo e na cidade. Enquanto isso, os servidores da segurança
pública são vistos como peças descartáveis. Fatos como esses são culpa
exclusiva da inoperância da União, já que tais conflitos possuem cunho
político.
Além disso, a falta de comprometimento do Governo Federal em melhorar
os salários dos policiais nos estados da federação faz com que esses
militares se submetam a deslocamentos para outros estados em missões de
risco, em busca das diárias – que, muitas vezes, são migalhas perto de
tamanha responsabilidade. Os membros da Força Nacional são designados
pra locais que não conhecem, servindo de “guardas” da Policia Federal.
Atualmente, duas propostas tramitam no Congresso Nacional e visam
melhorar as condições de trabalho dos servidores da segurança pública: a
PEC 300, que institui o piso salarial nacional, e a PEC 24, que cria o
Fundo de Desenvolvimento da Segurança Pública. Ambas encontram
resistência nas bancadas governistas, tanto na Câmara quanto no Senado.
Paralelamente às dificuldades políticas, as polícias ainda encontram na
grande mídia e em entidades de direitos humanos mais resistência.
Enquanto a imprensa não poupa críticas e ainda mostra um fato de tamanha
complexidade em segundos, os direitos humanos sequer se manifestam
sobre o ocorrido. Esse silêncio todo permaneceria caso um invasor fosse
morto pelo PM?
Além dos bandidos, os policiais enfrentam, diariamente, desmandos de
superiores, descaso do poder público, falta de viaturas, fardamentos,
condições de trabalho e falta de pessoal. A insatisfação é grande.
Estamos à beira de um colapso na segurança pública e, caso a atual
política de valorização continue, não haverá policial que se anime para
enfrentar os black blocs nas ruas, no ano que vem, durante a Copa do
Mundo. Por isso, uma grande paralisação poderá ser desencadeada caso o
Brasil não acorde novamente.
Edmar Soares da Silva
Presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul
Fonte: Ronda.org
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