Policiais que entraram na PM de MS em 1983 relembram o passado na hora da despedida

Após passar 30 anos na Polícia Militar, um grupo de 28 homens está prestes a deixar o serviço e entrar para a reserva remunerada. Neste tempo, a tecnologia evoluiu, a cidade cresceu e muitas histórias ficaram na memória dos ‘praça véia’, como são chamados os mais experientes na tropa.

Dos 167 jovens que começaram o curso de formação de praças em 1983, apenas 28 chegaram ao final de carreira. Os outros se aposentaram, deram baixa ou morreram. Em 1991, 11 deles optaram pela transferência para o Corpo de Bombeiros.

Um deles, inclusive, chegou ao posto de coronel dos bombeiros; um atingiu o posto de oficial superior e outro destacou-se na política sendo eleito cinco vezes vereador e ocupando atualmente o cargo de deputado estadual. A maioria atingiu outros postos como sargento, subtenente e oficial.

Uma comissão formada pelo tenente Pantaleão, sargento Mugart, Subtenente Mota e sargento Osmar, está preparando uma solenidade, que acontecerá no dia 5 de outubro, na Colônia Paraguaia, para marcar a despedida.

A opinião geral é que a carreira militar deixará saudades. Mas, segundo o sargento Osmar Rodrigues dos Santos isto é bom. “Se não bater saudade, não terá valido a pena passar 30 anos a serviço da Polícia Militar”, afirmou. Atualmente ele trabalha no setor de logística do Centro de Formação de Praças. “Estou terminando minha carreira, justamente onde a comecei”, resume.

Fuscas, veraneios e opalões

Todos concordam que principalmente nos últimos 20 anos, a Polícia Militar deu um salto de qualidade material, com a renovação dos equipamentos. Nos últimos cinco anos houve também mudanças no perfil dos policiais, que na maioria possuem ensino médio completo e até mesmo curso superior.

Quando se reúnem, os policiais que estão deixando as funções, recordam de algumas particularidades. Formados na turma de 1983, encontraram a Polícia Militar em uma situação precária. Para o policiamento da Capital, a corporação contava com dois Fuscas, três Veraneios e dois Opalas. A comunicação com outros pelotões do interior do Estado era feita através de aparelhos de telégrafo ou telex.

Na época em que foram incorporados, estava surgindo o bairro das Moreninhas. "Acompanhávamos o pessoal que estava se mudando das margens do córrego na Ernesto Geisel para as Moreninhas. Fazíamos uma espécie de escolta e era distante”, afirma o sargento Baltazar Mugart.

Morte e tristeza

Nos 30 anos de serviço, foram vividas várias histórias e cada um dos integrantes do grupo tem um fato marcante para contar. O sargento Mugart afirmou que foi dar atendimento a um acidente da trânsito na esquina das avenidas Calógeras com Salgado Filho, entre um fusca e uma camionete.

No fusca estavam um casal, que morreu instantaneamente e uma criança que morreu logo depois. “Quando chegamos ainda pegamos a criança com vida. Ela olhou para mim e pedia para não deixá-la morrer. Infelizmente não foi possível e ela morreu nos meus braços. Fiquei muito abalado com o fato mas vi que aquela seria a minha realidade”, afirmou.

Quanto às operações, Mugart afirma que várias vezes trocou tiros com marginais, foi atingido em uma oportunidade na perna e, quando integrante do então GOF (Grupo de Operações de Fronteira), participava ao combate aos coureiros que agiam no Pantanal.

Por seu turno, o tenente Pantaleão, que transfeiru-se para os Bombeiros, afirmou que já fez vários partos e também atendeu um acidente de trânsito nas proximidades de Terenos que o marcou. “Quando nos chamaram falaram que era uma batida entre carros. Quando chegamos o veículo já estava em chamas e dentro, pai e filho, que morreram carbonizados, estavam abraçados”.

Herói no Japão

Um dos fatos mais marcantes da turma envolveu o então soldado Nitoshi, que incorporou junto com o grupo. Ele foi designado para fazer a segurança do primeiro ministro do Japão durante uma visita a Ponta Porã. Houve um atentado e foi disparado um tiro contra o visitante. Nitoshi atirou-se para defender o político e foi atingido na barriga. O incidente foi controlado e o soldado levado ao hospital, onde se recuperou.

Passado um tempo, uma correspondência oficial do Governo do Japão agradecia o ato de bravura e convidava o policial a fazer uma visita ao pais, que também era a nação dos pais do PM. Nitoshi aceitou, foi, gostou, conseguiu a nacionalidade nipônica e vive até hoje na Terra do Sol Nascente.

Direitos perdidos

Para os tiras da comissão que prepara a festa de despedida da corporação, foi um grande orgulho tem servido à Polícia Militar por 30 anos. Enquanto comemoram avanços, também lamentam algumas perdas, como o direito à promoção e salário de um posto acima na hora do desligamento da corporação. Também foi suprimida a licença especial de seis meses, concedida a cada 10 anos de serviço.

“Comemoramos os avanços, mas lamentamos as perdas. Neste último caso, sinto-me bastante decepcionado, mas não será isso que vai abalar o nosso orgulho”, concluiu o sargento Mougart.

Fonte: Midiamaxnews

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