Inibidores de apetite à base de anfetaminas são proibidos no Brasil

Anfepramona, femproporex e mazindol devem sair de circulação até 10 de dezembro.

Por Cristine Pires  Infosurhoy.com

       A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu banir do mercado inibidores de apetite à base de anfetaminas, mas o uso dos derivados de sibutramina foi mantido, com restrições. (Cortesia de Marcello Casal Jr/ABr)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu banir do mercado inibidores de apetite à base de anfetaminas, mas o uso dos derivados de sibutramina foi mantido, com restrições. (Cortesia de Marcello Casal Jr/ABr)












PORTO ALEGRE, Brasil – A anfepramona foi o remédio utilizado pela arquiteta Valéria Schneider, 40 anos, para emagrecer. Na época, ela tinha 26 anos e conseguiu um resultado compensador.

Em menos de um mês, emagreceu 8 kg, passando dos 66 kg para 58 kg.

“O problema é que perdia o peso, mas recuperava metade do que havia perdido bem depressa, em uns 6 meses”, conta.

Ao descobrir que tinha hipotireoidismo (diminuição de funcionamento da tireóide), Valéria parou de usar o medicamento.

Mas quando o peso voltou a aumentar, Valéria diz que pensou em seguir a orientação médica e usar novamente a anfepramona.

“Só que agora esse remédio não pode ser mais comprado”, diz Valéria, que é contra a recente resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A diretoria da Anvisa decidiu em 4 de outubro que os inibidores de apetite do tipo anfetamínico anfepramona, femproporex e mazindol terão seus registros cancelados, ficando proibida a produção, o comércio, a manipulação e o uso desses produtos.

A decisão se baseia em evidências de “eventos adversos graves”, associadas à ausência de dados confiáveis comprovando que essas substâncias são eficazes no tratamento da obesidade e seguras para consumo humano, disse o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, em entrevista coletiva logo após a reunião.

Entre os efeitos indesejados desses medicamentos, Barbano destacou “quadros psiquiátricos de dependência, depressão, desenvolvimento de comportamentos que colocavam os pacientes em risco e quadros cardíacos”.

“Sou contra a proibição e a favor de controlarem melhor a quantidade de receitas que são emitidas por cada médico”, afirma Valéria.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia também desaprova a medida do governo federal.
Em nota oficial, a entidade alega que a retirada de qualquer um desses medicamentos do mercado restringe as alternativas de tratamento da obesidade, comprometendo a saúde dos pacientes que necessitam de remédios para perder peso.

“Temos a certeza de que, com a responsabilidade que os profissionais médicos têm, eles saberão substituir os tratamentos dos pacientes que estão usando esses produtos”, rebateu Barbano.


       Dirceu Barbano, diretor-presidente da Anvisa sobre a proibição de três inibidores de apetite no Brasil: “Temos a certeza de que, com a responsabilidade que os profissionais médicos têm, eles saberão substituir os tratamentos dos pacientes que estão usando esses produtos”. (Cortesia de Wilson Dias/ABr)
Dirceu Barbano, diretor-presidente da Anvisa sobre a proibição de três inibidores de apetite no Brasil: “Temos a certeza de que, com a responsabilidade que os profissionais médicos têm, eles saberão substituir os tratamentos dos pacientes que estão usando esses produtos”. (Cortesia de Wilson Dias/ABr)


Mais controle na prescrição de subitramina
 Outro medicamento utilizado no tratamento da obesidade, a sibutramina continua no mercado, mas deverá ser vendida com mais controle.

A Anvisa determinou que profissionais de saúde, drogarias e distribuidoras são obrigadas a informar qualquer efeito adverso da sibutramina em pacientes ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.

Outra medida de controle da prescrição e uso da sibutramina é a exigência de um termo de esclarecimento, que deve ser assinado pelo médico e paciente como prova de que ambos estão cientes das contra-indicações do produto e seus riscos.

Passados 12 meses de vigência das novas regras, a Anvisa irá reavaliar a segurança do uso de medicamentos à base de sibutramina.

“Tenho certeza de que é um momento de monitoramento, é um momento de responsabilidade de todos”, disse Barbano. “Agora a responsabilidade de fazer a notificação (de efeitos adversos) será de todos (os envolvidos na venda e prescrição da sibutramina).”


Riscos precisam ser levados em consideração

As anfetaminas são drogas sintéticas, fabricadas em laboratório e que podem ser vendidas sob a forma de remédio, conforme o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Essas substâncias são estimulantes da atividade do sistema nervoso central, portanto, “fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais acesas, ligadas, com menos sono, elétricas”, explica o Cebrid em seu website.

“Por isso, são tão utilizadas por caminhoneiros, caso do femproporex, conhecido popularmente como rebite”, explica o médico e pesquisador científico Elisaldo Luiz de Araújo Carlini, do Cebrid. “Por outro lado, se tiver abuso dessa droga, os efeitos são aumento da pressão arterial, insônia, irritação.”

Entre as consequências do consumo dessas drogas, está a tomada de atitudes que não seriam adotadas em situações normais – no caso dos motoristas, ultrapassagens perigosas e outros tipos de imprudências ao volante.

Além disso, as anfetaminas dilatam as pupilas, deixando os olhos mais sensíveis à luz, devido à perda de qualidade defensiva do globo ocular.

“Quem ingere essas drogas e pega no volante à noite fica em uma situação de extremo perigo com os faróis dos outros carros”, adverte Carlini.

E a taquicardia, outro efeito do uso de anfetaminas, oferece graves riscos para pessoas com problemas cardíacos.

“Há 30 anos se lutava pela retirada desses remédios do mercado”, diz o médico, que aprova a decisão da Anvisa.

Fonte: Infosurhoy.com

Comentários

Seguidores