Paraguai: Mães lutam contra o crack


Mulheres de Bañado Sur, bairro na periferia de Assunção, exigem que autoridades combatam a droga de maneira mais eficaz.

Por Hugo Barrios para Infosurhoy.com – 06/11/2012



       Membros da Organização Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos fazem passeata pelas ruas do bairro de Bañado Sur, em Assunção, exigindo que agentes da lei combatam o microtráfico de drogas de maneira mais eficaz. (Marta Escurra para Infosurhoy.com)
Membros da Organização Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos fazem passeata pelas ruas do bairro de Bañado Sur, em Assunção, exigindo que agentes da lei combatam o microtráfico de drogas de maneira mais eficaz. (Marta Escurra para Infosurhoy.com)
ASSUNÇÃO, Paraguai – O crack é vendido como doces nas ruas de Bañado Sur, bairro na periferia da capital, Assunção.
“A situação é desesperadora em Bañado Sur”, conta Ninfa, 36 anos e oito filhos. “O crack está destruindo nossos jovens – alguns até trocam um frango por crack”.
Uma pedra de crack é vendida por 5.000 guaranis (R$ 2,40) no bairro, afirma Ninfa.
A Unidade Antidrogas da Polícia Nacional frequentemente realiza operações no local. Em 11 de outubro, por exemplo, policiais prenderam Alicia Concepción Peralta, conhecida como a “Rainha do Microtráfico”. Alicia, que aguarda julgamento na cadeia, foi flagrada com 36 pedras de crack, segundo autoridades.
O início da organização Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos

       Ninfa Ruíz, 36 anos, fundadora da organização Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos: “O crack está destruindo nossos jovens – alguns até trocam um frango por crack”. (Marta Escurra para Infosurhoy.com)
Ninfa Ruíz, 36 anos, fundadora da organização Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos: “O crack está destruindo nossos jovens – alguns até trocam um frango por crack”. (Marta Escurra para Infosurhoy.com)
Ninfa é uma das 16 mulheres que, há 21 meses, fundaram a Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos depois de ver crescer o número de viciados em crack no bairro.
O grupo, composto por mães de viciados e não viciados, reúne-se duas vezes por semana para analisar o problema das drogas no bairro, que abriga 16.000 moradores, detalha Ninfa.
As mães, que são voluntárias, também oferecem aconselhamento gratuito e recuperação a 150 jovens viciados, diz Rodrigo Rojas, psicólogo que trabalha no auxílio aos viciados em crack do bairro.
“Oferecemos aos viciados acesso ao sistema de saúde”, explica Federico González, outro psicólogo que trabalha com a organização. “A partir daí, vão pensando nas estratégias para diminuir, substituir ou abandonar definitivamente as drogas.”
Rojas acha que o narcotráfico e o consumo desenfreado são consequências da desigualdade social, pois os moradores do bairro não têm acesso a bons serviços de saúde e empregos e acabam recorrendo às drogas como um meio de ganhar dinheiro.
González, no entanto, percebe uma mudança no uso das drogas desde que a Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos começou a ajudar os viciados.
“Cerca de 60 jovens que antes praticamente viviam nas margens do Arroio Ferreira [canal que atravessa Bañado Sur] para se reunir e fumar crack, voltaram a morar em casa”, diz González. “Alguns deixaram de consumir drogas, enquanto outros continuam a consumir, porém menos.”
Passeatas pela segurança

       O psicólogo Rodrigo Rojas, que trabalha como voluntário na Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos, diz que a falta de estudo e emprego normalmente leva os jovens às drogas. (Marta Escurra para Infosurhoy.com)
O psicólogo Rodrigo Rojas, que trabalha como voluntário na Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos, diz que a falta de estudo e emprego normalmente leva os jovens às drogas. (Marta Escurra para Infosurhoy.com)
Desde o início, a Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos faz passeatas pelas ruas de Assunção para exigir das autoridades um melhor trabalho no combate às drogas. A mais recente ocorreu em 20 de setembro, quando 200 pessoas caminharam rumo à Unidade Antidrogas do Ministério Público.
“Tenho um filho de 25 anos que consome crack há cinco, mas também há outros jovens viciados que considero meus filhos e que ficam perambulando pelas ruas em busca de drogas”, ressalta a dona de casa Gloria Medina, 45 anos, integrante do grupo.
Não é fácil participar da Mães Lutadoras pela Saúde de Seus Filhos, pois Gloria e Ninfa já receberam ameaças de narcotraficantes locais.
Mas as mulheres estão dispostas a morrer pela causa.
“Um dia, [os traficantes] queimaram parte da minha casa, mas isso não me deteve”, conta Ninfa, que não denunciou o incidente às autoridades. “Se tiver que morrer, será lutando pelo bem-estar de nossos filhos e outros jovens.”
O problema da reincidência
Para ter uma noção da abrangência das drogas em Bañado Sur, basta perguntar a Jorge Kronawetter, promotor da Unidade Antidrogas.
“O que mais chama a atenção em todos os nossos procedimentos é a reincidência. Há casos em que foram realizadas ações na mesma casa em cinco ou seis oportunidades e todas as vezes encontramos drogas”, diz.
A Unidade Antidrogas realiza de oito a 10 operações contra o microtráfico por semana em Assunção e região, com Bañado Sur sendo um dos alvos mais frequentes, acrescenta Kronawetter.
Kronawetter afirma que o Paraguai precisa de melhores programas de recuperação e reintegração.
“Quando um traficante é preso, todos se esquecem do viciado, porque a única coisa que fazem é procurar outro traficante”, acrescenta. “Seria importante que não só tenhamos um programa de reinserção dos presos nas penitenciárias, como também para os viciados. Precisamos de uma política eficaz do Estado.”
Fonte: http://infosurhoy.com/cocoon/saii/xhtml/pt/features/saii/features/main/2012/11/06/feature-01
acessado em 12/11/2012

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